Nenúfar
espaços em branco
sento-me cansada na cadeira que me respira
abro a janela exausta de chuva e de vento
fumo pela última vez o derradeiro cigarro
que me matará de tanto que mo afirma
enrolo-me em metáforas já gastas
tão doces como um feto morno
num ventre feito de amor
escondo-me na cortina do fumo mortal
que me envolve em nevoeiro e bruma
pano vermelho com aroma a memórias de infância
aquece-me os dias que se perdem do sol
alimenta-me de sustos e medos
tento respirar dentro de água
serei nenúfar de romance surrealista
morrerei de sede
por não saber onde fica a nascente dos sonhos
deito-me na nuvem que invento
branca
espaço em branco que existe ainda (dizem)
por inventar