Mulheres em Chamas
quinta-feira, fevereiro 12
  Cartas de Amor 1

Sempre que recebemos cartas de amor achamos que não as merecemos. Eu nunca percebo porque me amam. Ou percebo, o que vai dar ao mesmo. Apenas percebo o meu amor, nunca o dos outros.

Cartas de Amor 2

Guardo as minhas cartas de amor todas baralhadas. Depois arrumo-as em caixas de cetim. Cada uma em sua caixa, como tesouros indizíveis. E depois saboreio-as ao longo dos dias sabendo-me na vida de quem me ama até ao limite impossível dos seus sorrisos.
E saboreio cada palavra escrita como um copo de vinho tinto
encorpado
colorido
aromático
saboroso
doce.
A palavra que bebo hoje é Preciosa. Foi-me oferecida como prenda. Ser Preciosa torna-me a estrela do meu caminho
percorrido
novo
aventureiro
desconhecido,
que me devolve a mim.

As cartas de amor guardo-as na alma. Visto-as nos dias de festa. Visto-as nos dias em que me festejo.

Cartas de Amor 3

Agora escrevo eu.

escrevi-te um dia uma carta de amor
anda por aí perdida nos dias tristes
contava uma estória de bonecas
contava uma estória de lágrimas feitas de cristal
contava uma mágoa que era só minha
e tu puseste a mágoa no teu colo e levaste-a à tua janela
fotografaste uma dor minha em palavras novas
desenhaste os seus contornos a lápis de carvão
sublimaste o vidro soprado em frágil cristal
embalaste uma mágoa que não era já minha
soltaste alguns dos meus eus
abriste a porta

generosamente
graciosamente
delicadamente
amoravelmente

agora és tu
dá-me a tua mágoa
deixa-me soprá-la como um balão colorido
deixa-a voar até tocar o azul
faz dela uma fotografia a preto e branco


Foto - Eu não sou assim, pintaram-me assim
de Margarida Araújo





 
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Uma mulher na corda da roupa sem rede, debitando sonhos, tretas e outras coisas sem interesse geral

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