Quarta Feira de Cinzas
As cinzas
Noite fria e cheia.
Noite plena de comunhão de sermos todos o mesmo.
Cumprido o ritual, olhamo-nos nos olhos da noite. Em dias de festa a sério trouxemos todos os demónios que nos habitam à rua. Mostramos as máscaras de que nos alimentamos. Exibimos os fantasmas, as fantasias, os sonhos inconfessáveis.
Fomos tudo o que já somos sem o saber. Passeámos a nossa alma, despimo-la na rua despudoradamente.
Noite fria e plena de sombra e brilho. Enterrámos o Carnaval. Explodimos o seu corpo em som e cor alucinante. Extasiamos mais uma vez com as estrelas que nos aquecem a alma e nos iluminam o olhar.
Noite. Calma. Paz. Amanhã todos poremos a máscara de novo. E voltaremos a não nos conhecer no cinzento das ruas limpas de plumas e luzes brilhantes.