Âncora
passo pelos dias azuis de navegações atribuladas
inventando rumos, rotas e adivinhando as marés
mulher, capitão, soldado, ladrão,
serei todos eles sempre e só
ao leme da minha embarcação.
mar salgado, mar tão doce de espuma ondulada
que fala baixinho na ponta dos teus dedos
mulher de descarados sorrisos bordados a ouro
comandando tropas viris e brutas a eito
lutando contra legiões com o tédio no peito
pilhando estrelas que amealho como um tesouro.
tesouro de pirata...
cantiga de criança...
rei, capitão, soldado, ladrão, mulher, guerreira, tão...coração.
ofereço-te a minha imagem, escura e desfocada
captada sem arte nem ofício
devolves-ma envolta em luz e cor
e fazes da minha estrela o teu artifício.
parto de mim, parto do meu corpo
parto de ti, parto do teu peito
voltarei segura, voltarei para mim
formosa, segura e nunca presa
pela âncora que deixaste no meu porto.
Magritte