Vestiu-se de bandeiras. Foi buscá-las às arcas mágicas da juventude.
Chegaria tarde.. tão tarde e tão cedo. Viu-se no espelho, menina em botão, mulher de flor vermelha na mão cerrada como uma arma de raiva e de desejo de liberdade.
O espelho sorriu benevolente... “onde vais passionária? onde levas essa flor gasta de sentidos, farta de solenidades, já acabou a tua festa, já se ouviram os foguetes politicamente correctos criados por jovens pirotécnicos que perdem mãos e braços e vidas na tentativa de oferecer estrelas a quem não as tem no coração...”
Olhou serena para o espelho... despiu as bandeiras. Guardou-as amorosamente junto da flor de laranjeira que usara um dia no cabelo e na alma.
De relance viu uma casa. Camas por deitar. Pesadelos a sossegar. Viu o medo que tinha de apaziguar. “Já não nos tirarão a meio da noite da seda dos lençóis. Já não há medo... Nunca viste isso, meu filho. Sonhas com o passado que foi de outros homens. Não será o teu futuro. Dorme meu coração...”
Os tempos já não são de medo dos homens que chegavam sem nome. Os tempos são de amar. O Tempo é de perceber que as feridas se curam com beijos e sorrisos. O Tempo é de saber que as cicatrizes são mais bonitas que as tatuagens feitas a frio. As nossas tatuagens são na alma... e marcadas a quente. São a nossa estória.