Mulheres em Chamas
segunda-feira, dezembro 22
  a segunda preda de natal... para ti

como uma prenda
faço uma tatuagem
serve o meu corpo de papel branco
uso o teu desejo como tinta preta

deixamos a tinta tatuar
a calma das minhas cores
faço do teu negro
a pintura dos meus dias

uso o perfume da cera
que inscrevo no meu corpo
cravo o estilete que perfura
na pele que será tua

como uma prenda
faço uma tatuagem
a cores
sem som
com dores
tão bom...



FOTO - Man Ray
Le Violon d'Ingres, 1924  
quarta-feira, dezembro 17
  a primeira prenda de natal.. para mim

já não me apetece escrever

já não me apetece usar o cartão de crédito
já não me apetece trazer coisas para casa
já não me apetecem os objectos brilhantes
já não me desejam os laços de fita
já não me seduzem os papéis coloridos

já não me apetece escrever

gostava apenas de saber pintar
fotografias a preto e branco
nos dias em que as cores sejam intensas
e encher o meu espaço em branco
de azuis, verdes, anis, violetas

já não me apetece escrever

vou comprar uma daquelas digitais
em que não precisamos de medir a luz
nem a focagem nem o ângulo
nem pensar o enquadramento

quero uma daquelas que
transformam o nosso olhar
e me dão a imagem perfeita
do meu desejo

já não me apetece escrever

só tenho de encontrar uma digital
que não tenha cores já configuradas.

prefiro inventá-las eu
e fazer delas o meu foco de luz...
à minha maneira...


 
sábado, dezembro 13
  Poema de amor com cidade e rio ao fundo



Volto às vielas antigas onde as palavras já foram gritadas

Becos e ruas formam o palco de um história sonhada

Inventei um amor, e dele dei conta à minha cidade.

Murmurei-o ruidosamente, sempre pela calada da noite.

Passeei na calçada portuguesa.

E roubei uma linha ao Poeta - A minha Pátria é a Língua Portuguesa.
Agarrei nessa linha e cosi-a ao meu vestido de organdi. Coloquei-lhe uma estrela na gola. Vesti-me de Festa.
Desci a travessa inclinada, com o azul no fundo dos meus olhos.

Naveguei num veleiro com gaivotas por tripulação, olhando para a foz de todos os rios. Este, que me ama e me chama, é apenas - O rio que passa na minha aldeia -

Na outra margem da cidade

Navegas, para te perderes, um olhar que se encontra com o azul quase lilás que trago de outros lugares.

Vejo-te mergulhar no desejo do abismo.

Apanho-te no salto e embalo as tuas tristezas suaves em ternuras dos gritos dos golfinhos.

Já não há margens. As cidades desapareceram. Fica-nos o mar.

 
  Nenúfar




espaços em branco

sento-me cansada na cadeira que me respira
abro a janela exausta de chuva e de vento
fumo pela última vez o derradeiro cigarro
que me matará de tanto que mo afirma

enrolo-me em metáforas já gastas
tão doces como um feto morno
num ventre feito de amor

escondo-me na cortina do fumo mortal
que me envolve em nevoeiro e bruma
pano vermelho com aroma a memórias de infância
aquece-me os dias que se perdem do sol
alimenta-me de sustos e medos

tento respirar dentro de água
serei nenúfar de romance surrealista
morrerei de sede
por não saber onde fica a nascente dos sonhos

deito-me na nuvem que invento
branca
espaço em branco que existe ainda (dizem)
por inventar
 
sábado, dezembro 6
  O prazer



o teu prazer repousa no meu corpo
espera pelas manhãs de gargalhadas

o teu prazer não tem pressa
aguarda o meu sorriso
feito de dias de ontem e de hoje

o teu prazer invade-me os dias
afoga-me de águas claras
suga-me as energias
mantém a minha rede à tona do mar

o teu prazer leva-me longe
viajo com rumo
seguro o meu leme
o barco é feito de madeira
o barco é feito de memórias doces...
o meu barco não é meu.

o teu prazer repousa na minha alma
na doçura do meu ventre
na seda dos meus lábios
na surpresa dos teus dias.
 
  memórias do presente

oferecer-te o meu perfume
embrulhado em papel de seda
translúcido guardião da minha alma
espelho da pele
em chamas
corpos brancos

vozes em tráfego
sons em linha

oferecer-te um corpo de luz
num dia cinzento de tons e sons







 
Uma mulher na corda da roupa sem rede, debitando sonhos, tretas e outras coisas sem interesse geral

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